05 Junho 2015
No Canadá chegou ao final dos seus trabalhos a Comissão pela Verdade e a Reconciliação sobre as “escolas residenciais”, os institutos jesuítas de Igrejas cristãs onde – a partir da metade do século dezenove e por quase todo o século vinte – o governo federal transferiu forçadamente em torno de 150 mil crianças das tribos nativas para concretizar a política da assimilação forçada.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada pelo jornal La Stampa, 01-06-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Para amanhã é esperada a apresentação do relatório final, com as narrações detalhadas das violências sofridas e o número estarrecedor de pelo menos seis mil crianças mortas nestas estruturas. Mas ontem, em Ottawa, já se realizou uma “marcha da reconciliação” para reconhecer a verdade de uma barbárie que somente a partir dos anos Oitenta [do século dezenove] se começou a reconhecer como tal no Canadá. E, entre os milhares de pessoas que tomaram parte na marcha de Ottawa estavam também o arcebispo católico da cidade, monsenhor Terrence Prendergast e uma representação oficial dos bispos canadenses.
Aquele fato das violências ante os pequenos inuit e metis arrancados de suas famílias para fazê-lo se tornaram “verdadeiros canadenses” é uma página negra da história de todo o Canadá: já em 2008 o premiê Stephen Harper havia apresentado desculpas formais às comunidades aborígenes por esta história, iniciando o processo da Comissão pela Verdade e a Reconciliação. Este organismo recolheu os testemunhos das vítimas deste sistema, que se protraiu até os anos mais recentes (a última das “escolas residenciais” foi fechada em 1996). E é uma história que em âmbito escolástico – geria muitas destas estruturas. E sob acusação estão não só o fato de ter colaborado com o governo federal nesta obra de desenraizamento da cultura nativa, mas também os casos isolados de violências físicas e psicológicas gravíssimas – incluindo abusos sexuais – cometidos em relação a estes pequenos no interior das escolas.
“Olhamos para o passado e pedimos perdão”, escreveu o arcebispo de Ottawa numa carta pastoral endereçada à sua diocese por ocasião da “marcha da reconciliação”. “Muitas das escolas residenciais eram geridas por entidades católicas e reconhecemos ter responsabilidade moral no que sucedeu, junto à obrigação de nos arrependermos por estes erros. Com a vossa consciência destes acontecimentos – acrescentou Prendergast dirigindo-se aos fiéis - com a vossa presença aos eventos e com a prece, ajudareis a Igreja em seu desejo de colaborar com as comunidades aborígenes para construir um futuro compartilhado no respeito recíproco”.
Neste mesmo percurso de tomada de consciência e purificação da memória da parte da Igreja canadense, é também recordado que em 2009, no Vaticano, já ocorrera um encontro entre o Papa Bento XVI e o “Grande chefe” da Assembleia dos nativos do Canadá, Phil Fontaine, organizado pelo então presidente da Conferência episcopal canadense, monsenhor James Weisgeber. Naquela ocasião – explicou um comunicado da Sala de imprensa vaticana – Ratzinger manifestou “sua dor e angústia causada pela deplorável conduta de alguns membros da Igreja” neste sistema das escolas residenciais, acrescentando que “atos de abuso non podem jamais ser tolerados na sociedade” e rogando para que as vítimas pudessem receber conforto.
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O “mea culpa” dos bispos do Canadá pelas violências aos nativos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU